Sem orçamento definido, realização do Censo 2021 segue em risco

IBGE aguarda manifestação do Ministério da Economia para definir rumos da pesquisa – e do concurso que contrataria mais de 204 mil temporários.
 
A partir de agosto deste ano, um 'exército' de mais de 200 mil trabalhadores deveria dar início à coleta de informações do Censo de 2021, pesquisa que orienta grande parte dos investimentos públicos.
 
A realização do levantamento, no entanto, ainda é uma incógnita: enquanto o governo federal não define o Orçamento de 2021, que abriu um impasse no Congresso Nacional, o Censo 2021 segue sem definição. E as milhares de pessoas que se inscreveram para os concursos que deveriam contratar os trabalhadores que fariam a pesquisa não sabem, sequer, se devem continuar estudando para as provas, que podem não acontecer.
 
“O Censo não está cancelado. Somente as provas do processo seletivo foram suspensas, até que se tenha definição do Orçamento/Censo”, informou o IBGE nesta quarta-feira (14).
O IBGE havia solicitado R$ 3,4 bilhões para realizar o Censo em 2020, que era a data prevista para o levantamento. Com a pandemia, o processo foi adiado para 2021 e, após pressão do governo federal, o órgão enxugou o orçamento para cerca de R$ 2 bilhões.
 
No entanto, Congresso decidiu destinar apenas R$ 71 milhões para a pesquisa – menos de 5% do custo acordado – o que inviabiliza a realização do Censo.
 
Diante do corte, o IBGE decidiu suspender a aplicação das provas do concurso para a contratação de mais de 204 mil temporários para os cargos de agente censitário e recenseador, previstas de 18/04/2021 e 25/04/2021, respectivamente.
 
Ao anunciar a suspensão das provas do concurso, o instituto informou que aguardava manifestação no Ministério da Economia. Questionado pelo G1 sobre a paralisação de toda a programação do Censo diante das incertezas sobre o orçamento, a assessoria da pasta respondeu, apenas, que “o Ministério da Economia não vai comentar”.
 
A importância do Censo
O Censo é a principal pesquisa demográfica do país. Com periodicidade decenal, ou seja, realizado a cada dez anos, ele é responsável pelo levantamento dos principais dados sobre a população brasileira.
 
O Além da contagem da população, o Censo traz dados sobre saúde, educação, emprego, renda, acesso a saneamento, entre outras informações essenciais para implementação e desenvolvimento de políticas públicas. O último Censo foi realizado em 2010.
 
"Sem o Censo em 2021, as ações governamentais pós-pandemia serão fragilizadas pela ausência das informações que alicerçam as políticas públicas com impactos no território brasileiro, particularmente em seus municípios", afirmaram a ex-presidente do IBGE Susana Guerra e Eduardo Rios Neto, diretor de pesquisas do IBGE que foi indicado oficialmente para assumir o comando do órgão. O trecho consta em um artigo publicado em março pelo jornal "O Globo" e reproduzido na página do IBGE no qual afirmaram que o país ficará em risco sem as informações censitárias.
 
O corte no orçamento do Censo levou Susana Cordeiro Guerra a pedir exoneração do cargo de presidente do instituto alegando "motivos pessoais e de família". Em uma carta destinada aos funcionários do IBGE, ela enfatizou que o Censo “mais do que nunca será fundamental para o futuro do Brasil”.
 
Nesta quarta-feira (14) o IBGE confirmou que o ministro Paulo Guedes indicou Eduardo Rios Neto para assumir o comando do instituto. Atual diretor de Pesquisas do IBGE, Rios Neto é formado em Economia, possui doutorado em Demografia, é membro da Academia Brasileira de Ciências e professor titular aposentado da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
 
'Perda completa de eficiência da política pública'
Em março, oito ex-presidentes do IBGE divulgaram uma carta aberta em defesa do orçamento para o Censo 2021. Eles destacaram que os dados do Censo Demográfico são a base para a transferência de recursos para estados e municípios, para a administração do Bolsa Família e para todas as políticas de educação, saúde e transferência de renda.
 
"Nosso último censo ocorreu em 2010, e, sem ele, o Brasil se junta ao Haiti, Afeganistão, Congo, Líbia e outros estados falidos ou em guerra que estão há mais de 11 anos sem informação estatística adequada para apoiar suas políticas econômicas e sociais", alertam.
 
A carta aberta foi assinada por Edmar Bacha, Eduardo Nunes, Eduardo Augusto Guimarães, Edson Nunes, Eurico Borba, Sérgio Besserman, Simon Schwartzman e Silvio Minciotti.
 
Fonte: G1

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